Geração Z reviveu o rock? Entenda relação entre nativos digitais e o gênero


As bandas Linkin Park, Arctic Monkeys, Charlie Brown Jr., Guns N’ Roses e Red Hot Chili Peppers têm, pelo menos, dois pontos em comum: todas fazem parte de algum subgênero do rock e, também, do Top 5 artistas mais ouvidos do estilo pela Geração Z no Spotify, no Brasil, em 2025.

Os dados enviados à CNN mostram que os nascidos entre 1997 e 2012, também conhecidos como nativos digitais, estão redescobrindo o estilo musical no país. Afinal, em 2025, houve um aumento de 9% no consumo de rock pela Geração Z com relação a julho de 2024 e um crescimento de 21% em relação a julho de 2023. Mas por que esse grupo está consumindo mais o rock?

Valéria Brandini, antropóloga especialista em tendências de mercado e autora do livro “Cenários do Rock”, diz que a Geração Z busca por uma maior autenticidade e encontra esse estilo de vida, justamente, no rock. “É uma identidade que seria, talvez, mais autêntica (…), mais selvagem, mais agressiva. Não é todo mundo que vai ter aderência, ou que vai achar legal”, pontua à CNN.

Essa busca por autenticidade, segundo ela, pode ser encontrada em algo muito comum antigamente, mas mais raro hoje em dia: as tribos, também conhecidas como grupos de estilo. “Fazer parte de um grupo ou comunidade era quase como ser de uma torcida organizada, mas você não tinha um time rival: havia uma identidade associada a gostar de um estilo de música”, explica.

Outro fator que influencia o interesse da Geração Z pelo rock é a atual mudança no consumo musical. Os jovens revisitam o gênero para redescobrir um universo com o qual praticamente não tiveram acesso: como, por exemplo, o costume de outras décadas de comprar, manusear e colocar para tocar um disco de vinil — ou até mesmo um CD.

Isso fez com que a estrutura sociológica de consumo dos estilos musicais também mudasse, principalmente, com a chegada das redes sociais e dos vídeos curtos com músicas.

“Tudo é muito fragmentado (…). Hoje em dia, a forma como os jovens estão acessando, principalmente, o new metal é conhecer um pedacinho da música pelo TikTok, ouvem um riff de guitarra de cinco, 10 e 15 segundos e, a partir disso, querem conhecer mais de onde veio aquele som”, comenta.

The Town 2025 reúne nomes como Mariah Carey e Green Day • Divulgção
The Town 2025 reúne nomes como Mariah Carey e Green Day • Divulgção

Nos últimos seis meses, publicações no TikTok, registraram um aumento de 23% na busca pela hashtag #rock, no Brasil, com relação ao semestre anterior, segundo dados enviados pela rede social à reportagem. A hashtag reúne mais de 11,5 milhões de publicações e, só em 2025, esses conteúdos somam quase três bilhões de visualizações no aplicativo — lembrando: é uma rede social permitida apenas para maiores de 13 anos.

Segundo Valéria, esse movimento faz com que a Geração Z tenha acesso somente a fragmentos do “universo do rock”, que costumava englobar não só o toque físico dos discos, mas também a participação em tribos. Os nativos digitais, então, ficam ainda mais atraídos pelo rock após a descoberta de um riff de guitarra “visceral” tocando nos vídeos curtos das redes sociais.

Apesar do crescimento, o rock continua não estando entre os gêneros favoritos da Geração Z. Emely Jensen, sócia da agência de curadoria musical Bananas Music, conta que a preferência pelo rock está crescendo entre os nativos digitais do Brasil, mas o estilo musical perde para trap, rap, sertanejo e funk.

Os artistas internacionais se destacam ainda menos nesse cenário. “Em qualquer momento que você olhar, vai ter no máximo dez artistas internacionais a cada 100 músicas. Esse número pode aumentar em algum momento quando tem festival, mas, no geral, tem muito pouco artista internacional. Tem alguns [artistas internacionais] de rock e outros nacionais, mas muito pouco — o que a gente tem meio perene é [a banda] Charlie Brown Jr.”.

Para encontrar esses dados, a empresa cruza e analisa dados dos artistas e das músicas mais ouvidas no Spotify, Deezer e YouTube no Brasil.

Uma geração nostálgica

A pesquisa “Gen Z and The Power of Historical Nostalgia”, da iniciativa Human Flourishing Lab e da empresa Discover.ai, mostrou que a nostalgia é um recurso humano antigo, mas com mais força devido às instabilidades globais diversas que faz com que as pessoas busquem por equilíbrio psicológico no passado.

Quando o assunto é rock, a Geração Z se volta mais às músicas antigas e deixa as bandas atuais, como Wet Leg e Greta Van Fleet, um pouco de lado. Os dados do Spotify e da Deezer comprovam isso e vão além: mostram o poder da nostalgia para os nativos digitais.

Mas qual é a relação entre nostalgia e dificuldade das bandas atuais em serem ouvidas pela Geração Z? Valéria usa de exemplo o grupo italiano Maneskin, na qual os integrantes pausaram os trabalhos do grupo para seguir carreira solo. Para ela, essa escolha profissional “rompe um pouco a adoração que as pessoas tinham por bandas”, impedindo que o público fique “aficionado” nos conjuntos por anos, como era antigamente.

Maneskin na final do 66º Eurovision, em 14 de maio de 2022. • Stefania D'Alessandro/Getty Images
Maneskin na final do 66º Eurovision, em 14 de maio de 2022. • Stefania D’Alessandro/Getty Images

“Não existe exigência que seja de um jeito ou de outro, mas, antigamente, havia uma consistência maior na dinâmica de banda, de estar sempre junto, fazendo um álbum a cada ano, ou a cada dois anos, e saindo em turnê. Hoje em dia, você tem uma banda, eles lançam um ou dois discos. Depois, separam, alguém vai fazer algo solo, cada um gosta de alguma coisa… Eles não têm uma integração muito grande”, comenta.

O segredo do sucesso para bandas, ou até hits atuais, para Jansen, está no poder de viralização delas nas redes sociais. Ela usa como exemplo a música “Sweater Weather”, lançada em 2012 pela banda de rock indie The Neighbourhood, que se tornou a sexta música mais ouvida do Spotify em todos os tempos.

“Tem muito a ver com viralização no final do dia. Você pode ter um hit viral que vai ficar uma semana, um mês, um ano [nos charts], ou você pode ter músicas que vão perdurar por muito tempo, que é esse fenômeno do Neighborhood, sendo difícil de explicar o porquê [isso acontece], mas talvez pela qualidade [do som]”, diz ela.

O efeito festival na Geração Z e no rock

The Town 2025 acontece entre 6 e 14 de setembro no Autódromo de Interlagos, em São Paulo • Instagram/The Town
The Town 2025 acontece entre 6 e 14 de setembro no Autódromo de Interlagos, em São Paulo • Instagram/The Town

Mas nem só de viralização vive o rock: o festival The Town é um exemplo de como esses megaeventos, onde há uma mistura de vários gêneros musicais, podem apresentar ao público — e à Geração Z — outros artistas para além das redes sociais.

“O pessoal não precisa gostar de uma música ou de uma banda em especial. Eles vão porque vão curtir com a turma e ter a experiência do festival. Ali acabam tendo contato, conhecendo uma determinada banda e se tornando fãs”, explica Valéria.

Mas a quantidade de bandas de rock diminuiu nos grandes festivais. Na primeira edição do Rock in Rio, o Queen se apresentou com dois shows, nos dias 11 e 18 de janeiro, para um público gigantesco. O line-up também era composto por Iron Maiden, Scorpions, Ozzy Osbourne, AC/DC e Yes.

Já no Rock in Rio do ano passado, com cinco dias de programação e mais de 200 atrações, não tinha 20 artistas do gênero. Agora, com The Town, dos mesmos donos do evento em terras fluminenses, só há uma data dedicada ao estilo musical, com apresentações de Green Day, Bad Religion, Bruce Dickinson, Capital Inicial e Pitty neste domingo (7). Os ingressos, no entanto, ainda não tinham se esgotado nesta madrugada.

“Sou muito contra aquele discurso ‘ai, não tem rock no Rock in Rio’. Não é sobre isso, mas tem bem pouco [rock] comparado a todo o legado que já teve. É mais nesse sentido”, pontua Emely ao analisar as mudanças no line-up do Rock in Rio com relação ao gênero musical ao longo dos anos.

Valéria destaca outra tendência que mudou o line-up dos festivais. “Antigamente, uma banda tinha que ter um álbum novo para sair em turnê ou para fazer show. (…) Agora não: você pega uma banda que não lança álbum há 30 anos, a gente nem sabe se os caras sabem mais tocar, mas eles chegam [para se apresentar] e tá tudo bem. Isso é uma coisa nova: os caras podem estar sem lançar nada há muito tempo porque [o que vale] é o festival em si”, explica.

Mas como fica a tendência para o rock? Para as especialistas, a Geração Z deve continuar revivendo o rock nos próximos anos, tanto por uma maior busca por autenticidade, quanto por um movimento contracultura, na qual se busca criar uma nova forma de pensar e viver.

A CNN tentou contato com o Rock in Rio e The Town para entender por que houve essa diminuição de rock no line-up dos festivais, mas não teve retorno até a publicação desta matéria. A reportagem será atualizada quando tiver uma resposta.

Veja Top 10 com as bandas de rock mais ouvidas pela Geração Z na Deezer

#1 Imagine Dragons

Top 3 músicas

  1. Believer
  2. Demons
  3. Thunder

#2 Linkin Park

Top 3 músicas

  1. The Emptiness Machine
  2. In the End
  3. Numb

#3 S.O.D. Stormtroopers of Death

Top 3 músicas

  1. Sargent “D” And the S.O.D.
  2. Speak English or Die
  3. March of the S.O.D.

#4 Black Sabbath

Top 3 músicas

  1. Paranoid
  2. Iron Man
  3. War Pigs

#5 AC/DC

Top 3 músicas

  1. Back In Black
  2. Highway To Hell
  3. Thunderstruck

#6 Guns N’ Roses

Top 3 músicas

  1. Sweet Child O’ Mine
  2. Welcome To The Jungle
  3. Knockin’ On Heaven’s Door

#7 Metallica

Top 3 músicas

  1. Nothing Else Matters
  2. Enter Sandman
  3. The Unforgiven

#8 Queen

Top 3 músicas

  1. Bohemian Rhapsody (Remastered 2011)
  2. Don’t Stop Me Now (Remastered 2011)
  3. Under Pressure (Remastered 2011)

#9 Red Hot Chili Peppers

Top 3 músicas

  1. Californication
  2. Otherside
  3. Scar Tissue

#10 Pitty

Top 3 músicas

  1. Na Sua Estante
  2. Equalize
  3. Me Adora

Confira os dados do Spotify enviados à CNN:

  • O consumo de rock pela Geração Z no Spotify Brasil em julho de 2025 foi 9% maior em relação a julho de 2024 e 21% maior em relação a julho de 2023;
  • Subgêneros mais ouvidos pela Geração Z no último ano: rock brasileiro, alternative rock, pop rock, classic rock e indie rock;
  • Top 5 artistas de rock mais ouvidos pela Geração Z em 2025: Linkin Park, Arctic Monkeys, Charlie Brown Jr., Guns N’ Roses, Red Hot Chili Peppers;
  • Playlists editoriais de rock com maior engajamento da Geração Z no Brasil: Rock Classics, Rock Forever, BRock 80, Nu Metal Era.



Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/geracao-z-reviveu-o-rock-entenda-relacao-entre-nativos-digitais-e-o-genero/

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