O Brasil deve iniciar uma profunda reflexão e discussão sobre seu programa nuclear, especialmente diante das transformações geopolíticas globais. Essa é a avaliação do ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, Rubens Barbosa, que preside o Irice (Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior). Barbosa destaca a capacitação tecnológica já existente no país e a necessidade de se preparar para um futuro incerto.
A declaração foi feita durante participação no programa ‘WW Especial’, da CNN, que discutiu a hipótese de o Brasil recorrer à tecnologia nuclear para o seu sistema de defesa diante das tensões mundiais.
Segundo o embaixador, o Brasil possui vantagens estratégicas notáveis. “Nós temos uma reserva de urânio que é uma das cinco ou seis maiores do mundo”, afirma Barbosa. Ele recorda que o país manteve um programa paralelo da Marinha nas décadas de 1970 e 1980, o que contribuiu para o acúmulo de conhecimento.
No entanto, de acordo com o presidente do Irice, um dos principais entraves para o avanço de um programa nuclear mais robusto é a questão constitucional. “Toda a pesquisa de exploração, qualquer coisa que se faça na área nuclear é monopólio do Estado”, explica Barbosa. Para ele, qualquer movimento nesse sentido exigiria uma revisão legal: “A primeira coisa que a gente vai ter que fazer é mudar a Constituição, ou, então, deixar para mudar no final do processo”, alertou.
Cenário internacional
Apesar dos desafios, o Brasil já alcançou um patamar tecnológico significativo, ainda segundo embaixador. “O Brasil é um dos poucos países, não nucleares, que tem o ciclo completo nuclear, nós temos a capacidade, a capacitação”, ressaltou o ex-embaixador.
Ele enfatiza a importância de manter e atualizar essa expertise. “Isso deveria continuar, nós devemos nos atualizar disso, porque eu acho que nesse mundo em transformação a gente não sabe o que que vai acontecer daqui dez, 20 anos”.
Barbosa aponta para o movimento de outros países que já consideram ou estão buscando desenvolver seus próprios programas nucleares, citando como exemplos a Arábia Saudita e a Polônia. Para ele, é um sinal de que o Brasil não pode ficar alheio a essa tendência. “A gente tem que pensar e discutir”, conclui o presidente do Irice, sublinhando a urgência do debate sobre o futuro nuclear brasileiro.
WW Especial
Apresentado por William Waack, programa é exibido aos domingos, às 22h, em todas as plataformas da CNN Brasil.