O Príncipe de Gales apresentou na terça-feira (3/11), no Rio de Janeiro, uma nova e ambiciosa iniciativa para estabelecer parcerias e fortalecer a proteção dos povos indígenas e defensores da natureza na Amazônia brasileira.
O anúncio foi feito durante a United for Wildlife (Cúpula Global Unidos pela Vida Selvagem), que aconteceu no segundo dia de visita do herdeiro do trono britânico na cidade.
A Amazônia é um dos ecossistemas mais vitais do mundo e enfrenta uma crise dupla: a aceleração da destruição ambiental e o aumento da violência contra aqueles que trabalham para protegê-la.
A partir deste anúncio feito pelo Príncipe William, os líderes indígenas poderão ter assistências jurídicas e financiamentos de emergência para enfrentar as ameaças de quem tenta explorar suas terras, seus recursos e seus locais ancestrais.
A parceria estratégica será feita entre o programa Unidos pela Vida Selvagem da Fundação Real, criada pelo príncipe em 2013, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), o Fundo Podáali, a Rainforest Foundation Norway (RFN) e a Re:wild, com objetivo de enfrentar especificamente esses desafios.
Em seu discurso de abertura, o Príncipe William disse:
“Não podemos gerir as nossas florestas enquanto os seus protetores viverem com medo. E não podemos proteger os defensores do ambiente sem garantir a segurança dos territórios que defendem”
Em outro trecho, o príncipe falou que esta iniciativa significa trabalhar em parceria com aqueles que melhor conhecem a terra.
“Devemos proteger os protetores se quisermos garantir o futuro destes ambientes cruciais”
Em 2024, mais de 1,7 milhão de hectares da floresta amazônica foram desmatados, sendo grande parte dessa destruição impulsionada por crimes ambientais como extração ilegal de madeira, mineração de ouro e grilagem de terras.
As terras das comunidades indígenas abrigam aproximadamente 27% da Amazônia brasileira e esses tipos de atividades ilícitas causam danos catastróficos aos meios de subsistência, terras ancestrais e sítios sagrados.
Os povos indígenas e as comunidades locais protegem a Amazônia e há várias gerações os seus modos de vida e sua gestão ambiental tem impacto claro e tangível. Isso se demonstra no fato de que o desmatamento em terras indígenas é até 83% menor do que em áreas não protegidas da Amazônia brasileira.
Mas, por outro lado, esses povos enfrentam uma crescente intimidação, violência e ameaças à vida. Em 2023 e 2024, foram registrados 393 casos de violência contra aqueles que defendem o meio ambiente no Brasil. Comunidades indígenas e afrodescendentes são afetadas de forma desproporcional, representando cerca de um terço dos mortos ou desaparecidos em 2024.
A parceria histórica anunciada no Rio de Janeiro busca eliminar as barreiras à segurança e proteção de líderes indígenas no exercício de seus direitos, além de aprimorar o monitoramento de ameaças por meio de uma plataforma de dados compartilhada.
A COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) alcança 750 mil povos indígenas em aproximadamente 110 milhões de hectares de território amazônico e junto com o Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira “Estão felizes e honrados em celebrar esta parceria com a The Royal Foundation e seus parceiros, que significa apoiar, defender e proteger a vida daqueles que protegem”, disse Toya Manchineri, coordenadora-executiva da organização.
Para o Dr. Tom Clements, diretor-executivo da United for Wildlife, “Proteger as terras, os territórios e os recursos dos povos indígenas e das comunidades locais é uma das maneiras mais eficazes de proteger a natureza e combater as mudanças climáticas”.