Aos 93 anos, o cacique Raoni Metuktire continua brigando pela preservação da floresta, e vê os projetos de infraestrutura defendidos pelo governo brasileiro para modernizar a região amazônica como uma ameaça à floresta, aos povos indígenas e até mesmo ao restante da população.
“Esses projetos destroem rios e terras e estão continuando, eu não estou gostando. Eu tinha falado muito antes que haverá muitas consequências muito ruins para nós”, disse o cacique em entrevista exclusiva à Reuters nesta terça-feira, em Belém, onde participa de eventos relacionados à cúpula do clima da ONU, a COP30.
“Vai ser muito ruim para nós. E para vocês também. Vocês mesmos estão trazendo as consequências para vocês mesmos. A destruição continua fazendo com que a floresta não tenha vida”, acrescentou Raoni, falando em seu idioma nativo, o kayapó, com o neto traduzindo para português.
Há poucas semanas, o Ibama autorizou a Petrobras a realizar uma perfuração para verificar a existência de petróleo na foz do rio Amazonas, em mais um passo da exploração de petróleo na região.
Outros projetos de desenvolvimento econômico, como o asfaltamento da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho por dentro da floresta, e a construção de hidrovias, estão entre as propostas defendidas pelo governo federal na região.
Nenhum deles, diz Raoni, trará qualquer benefício para as populações indígenas e mesmo não indígenas da Amazônia.
O cacique, uma das maiores lideranças indígenas das últimas décadas, com amplo reconhecimento internacional, cobrou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela demarcação de terras.
“Eu tinha falado para o Lula quando nos encontramos antes dele assumir a Presidência e tinha falado que era preciso demarcar as terras indígenas, para que finalmente meu povo, meus parentes, possam ter suas terras por direito”, disse Raoni, acrescentando ter ficado feliz que pelo menos algumas das aldeias começaram a ser demarcadas. “A demarcação é muito importante para proteção das terras.”
Embora Lula tenha procurado ser reconhecido como um defensor das florestas tropicais do mundo e dos povos indígenas do Brasil, projetos polêmicos e uma lentidão na demarcação de novas terras indígenas depõem contra a ação do governo.
O cacique, que também esteve na Rio92 – a cúpula que deu início, há quase 30 anos, às discussões da ONU sobre aquecimento global –, não vê mudanças positivas desde então.
“Quando tinha floresta em todos os lugares eu fui nessa reunião (Rio92) para falar sobre a floresta. Eu tinha falado que nossa floresta tinha que ser mantida a floresta em pé. E mesmo assim eles continuaram destruindo tudo”, disse.
“Vocês, não indígenas, talvez vocês devessem ter ouvido e têm de pensar nos seus filhos, pensar nos seus netos, para que a floresta possa viver e possa contribuir com a vida das gerações novas, dos seus netos.”
