A classe política passou por uma desqualificação e uma desorganização ao longo dos últimos anos, segundo análise do cientista político e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Marco Aurélio Nogueira ao WW Especial.
Segundo Nogueira, esses fatores aconteceram em decorrência da “diluição das classes sociais”, junto de uma mudança na forma de fazer política: voltada para as plataformas digitais.
“Passou-se a pensar a política como uma política de mídias sociais, sem estar em contato direto, presencial, com a população do país”, diz o professor.
Além do afastamento, há um menor debate de propostas mais amplas – sem o foco no engajamento das plataformas digitais.
O efeito disso seria uma descrença no sistema de modo geral. Uma pesquisa da AtlasIntel divulgada em fevereiro de 2025 mostra que 82% da população brasileira desconfia de alguma forma do poder Legislativo. Em outro levantamento, dessa vez em agosto, 52% diz não confiar no governo federal.
“A política perdeu qualidade… A midiatização da vida nacional acabou por promover uma enorme dispersão na sociedade e, ao mesmo tempo, uma desqualificação na classe política”, afirma Nogueira.
Nas eleições de 2024, candidatos a prefeitos e vereadores gastaram R$ 170 milhões em impulsionamento nas redes sociais – um aumento de 57% na comparação com o pleito municipal de 2020. No total, dos 15.574 candidatos a prefeito, 4.237 declararam ter feito impulsionamento em redes sociais, o que representa 27% do total.
O uso excessivo das redes sociais se tornou “um grande problema” para o país, de acordo com o especialista. Isso, junto do que o professor diz ser uma “sociedade fragmentada” e com dificuldades de “promover um diálogo em direção a um entendimento mais amplo”, seriam pontos de inflexão que paralisam o país.
Nogueira finaliza com uma visão pessimista para os próximos anos. “Estamos às vésperas de uma eleição e é uma questão gigantesca. Vamos entrar em uma disputa presidencial sem ideias na mesa”, conclui.
WW Especial
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