Uma série de dados atrasados sobre emprego, inflação e outros indicadores na próxima semana fornecerá uma visão há muito esperada da economia dos Estados Unidos, que poderá ajudar a guiar os mercados até o final do ano.
As ações americanas recuaram no final da semana, após o índice de referência S&P 500 e o Dow Jones terem registrado recordes de fechamento na quinta-feira (11), enquanto o Nasdaq teve um desempenho inferior. Relatórios trimestrais decepcionantes da Oracle e da Broadcom, duas ações emblemáticas do setor de inteligência artificial que impulsionou os mercados ao longo deste ano, pressionaram o setor de tecnologia, que tem grande peso no mercado.
Os dados que serão divulgados em breve são essenciais, porque investidores e o Federal Reserve, o banco central norte-americano, têm navegado com pouca precisão desde que a paralisação do governo federal por 43 dias adiou relatórios importantes.
O relatório de empregos dos EUA referente a novembro será divulgado na terça-feira (16), enquanto o índice de preços ao consumidor mensal, que é acompanhado de perto pelas tendências da inflação, será divulgado na quinta-feira (18).
“Houve falta de clareza para os investidores”, disse Jim Baird, diretor de investimentos da Plante Moran Financial Advisors. “Os fortes resultados corporativos certamente ajudaram a sustentar os mercados. O Fed e os cortes de juros previstos deram um pequeno impulso. Mas agora é hora de voltarmos nossa atenção para a economia subjacente e para o caminho que estamos seguindo”.
O Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto), em uma votação de 9 a 3, cortou a taxa de juros dos EUA em 0,25 ponto na quarta-feira (10), levando ao intervalo de 3,5% a 3,75%, buscando fortalecer um mercado de trabalho em declínio. Mas o banco central americano sinalizou que os custos de empréstimo provavelmente não cairão mais no curto prazo, enquanto aguarda maior clareza econômica.
“Devido à paralisação do governo e ao cronograma de recuperação, temos essencialmente três meses de dados de emprego e inflação entre as reuniões do Fed de dezembro e janeiro”, declarou David Seif, economista-chefe para mercados desenvolvidos da Nomura.
A expectativa é de que o número de empregos criados nos EUA tenha aumentado em 35.000 em novembro, segundo pesquisa da Reuters. O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou na quarta-feira (10) que, embora o número médio de vagas criadas tenha crescido em 40.000 por mês desde abril, o Fed acredita que esses números estão superestimados e que, na realidade, a queda média pode ser de 20.000 por mês.
“Se começarmos a ter dados negativos sobre o emprego, não poderemos evitar a discussão sobre recessão”, destacou Marvin Loh, estrategista macro global sênior da State Street.
Os dados mensais do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) chegam em um momento em que a inflação continua acima da meta do Fed, o que pode complicar qualquer flexibilização adicional da política monetária caso a inflação não desacelere. Três membros do comitê de política monetária discordaram da decisão de reduzir as taxas de juros, incluindo dois que argumentaram que as taxas deveriam ter permanecido inalteradas.
“Continuamos a esperar novos cortes em janeiro e abril, mas se o mercado de trabalho se estabilizar, os cortes futuros podem não ocorrer até que a inflação desacelere”, disseram economistas do Morgan Stanley em nota divulgada na quinta-feira (11).
Um relatório sobre vendas no varejo está entre os outros dados divulgados na próxima semana que ajudarão a fornecer mais informações sobre o crescimento econômico. O relatório trimestral da Micron Technology, na quarta-feira (18), também poderá atrair maior atenção após a turbulência no setor de inteligência artificial nesta semana.
O índice S&P 500 subiu 16% até agora em 2025, elevando os ganhos durante o mercado de alta iniciado em outubro de 2022 para 90%. Dezembro é tradicionalmente um mês positivo para as ações.
No entanto, os investidores podem tentar realizar lucros acumulados no ano, o que pode gerar pressão vendedora. A proximidade dos feriados também tende a reduzir o volume de negociações, o que pode levar a movimentos exagerados nos preços dos ativos.
“De modo geral, foi um ano muito, muito bom para os ativos de risco”, apontou Loh. “Se surgirem números instáveis ou se não houver um motivo convincente para aumentar a exposição ao risco, isso pode aumentar a volatilidade do mercado devido à menor liquidez”.