A recente cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), que reuniu o líder russo Vladimir Putin, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o presidente chinês Xi Jinping, na China, gerou uma imagem simbólica na semana. No entanto, conforme avaliação do coordenador do grupo de Análise de Estratégia Internacional da USP (Universidade de São Paulo), Alberto Pfeifer, este encontro não configura, de fato, uma frente anti-Estados Unidos ou contra Donald Trump, nem um desafio à hegemonia americana.
Pelo contrário, o evento representa um amortecimento ou desvanecer das tensões entre Índia, Rússia e China, sinalizando uma distensão nas relações. A Índia, tradicional parceira dos Estados Unidos com cooperação militar e grande intercâmbio comercial, tem demonstrado irritação com ações recentes de Donald Trump, segundo Pfeifer.
“As tarifas americanas de 25% sobre as importações indianas, somadas a outros 25% pela importação de petróleo russo, totalizam uma taxa de 50% para a Índia. Além disso, uma conversa muito ríspida entre Modi e Trump, na qual Trump alegou ter sido responsável pela paz entre Índia e Paquistão – tese que Modi refutou –, também contribuiu para o cenário”, explica.
Pfeifer destaca que a Organização de Cooperação de Xangai é, atualmente, o grande arranjo plurilateral que congrega os países próximos à China, garantindo suas rotas logísticas. “Ao marcar esta aproximação entre as três nações, a cúpula envia um sinal claro ao mundo”.
“Em primeiro lugar, a China demonstra sua capacidade de harmonizar sua região e garantir rotas de suprimento, em consonância com a iniciativa do Cinturão e Rota da Seda, lançada em 2013. Em segundo, a mensagem implícita é que os Estados Unidos precisam modular o tom com seus parceiros principais, como a Índia”, ressalta.
Para Pfeifer, embora as tensões históricas, como as entre Rússia e China no norte e as disputas fronteiriças e por reservas de água entre Índia e China no Himalaia, devam persistir, a distensão observada na cúpula é significativa.
“O mundo parece caminhar para uma divisão de áreas de influência, com as atenções voltadas para a região da Ásia-Pacífico e Sul da Ásia, sob influência chinesa”, observa.
“Assim como a Rússia possui sua zona de influência em seu exterior próximo e os Estados Unidos no hemisfério ocidental, as principais potências globais parecem consolidar suas respectivas concentrações geográficas no futuro próximo”, conclui.