O ex-diretor do BC (Banco Central) e presidente do conselho de administração da Jive Mauá, Luiz Fernando Figueiredo considera um “crime” o Brasil pagar 10% de taxa de juro real.
Ele avalia que há “certa estabilidade” dos ativos nessa situação de prêmio de risco elevado porque existe uma crença de que um ajuste fiscal é inescapável em 2027.
“Mesmo que não haja alternância de poder, um ajuste fiscal é necessário. Em crise, ninguém consegue governar”, afirma ao Capital Insights, programa fruto da parceria entre o CNN Money e a Broadcast.
O país arrecada cerca de 40% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto as isenções fiscais correspondem a algo entre 6% e 7% do total das riquezas produzidas, compara. “Não é difícil fazer ajuste nessa condição. Mas é preciso querer”, diz o economista.
Figueiredo ressalta que a dívida brasileira está muito alta e continua a crescer rapidamente. “Estamos na dominância fiscal numa versão menos madura, ainda não extremada.”
Já na política monetária, o ex-diretor do BC recorda que houve forte pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Roberto Campos Neto, ex-presidente da autoridade monetária. Gabriel Galípolo, sucessor, faz um trabalho muito semelhante, avalia.
“O mandato da diretoria é técnico, não é político. Houve uma pressão gigante, mas colocaram as pessoas certas na diretoria do BC. Galípolo está construindo reputação. Não entendia muito de política monetária, mas tomou um banho de loja enquanto foi diretor e isso o ajudou a conduzir.”
Figueiredo avalia que o BC pode iniciar uma redução gradual da Selic em janeiro, mas há chance de antecipar o movimento para dezembro.
A inflação surpreende para baixo, câmbio e commodities não exercem pressão maior, e as expectativas no Focus estão na direção correta.
“É de se esperar que o BC brasileiro mude de forma devagar o teor da comunicação”, emenda.
Nos Estados Unidos, a redução dos juros deve ocorrer, muito provavelmente, neste mês. “O Federal Reserve tem que se mostrar independente sob o governo Trump”, completa.