Famílias das vítimas de incêndio no Ninho repudiam absolvição dos réus


As famílias dos dez jogadores da base do Flamengo que morreram no incêndio do Ninho do Urubu, em 2019, repudiaram a decisão da 36ª Vara Criminal do TJRJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) pela absolvição dos sete réus envolvidos no caso.

Por meio de nota, a Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu (Afavinu) se posicionou e disse que seguirá “em busca de justiça”.

“Entendemos que o papel da Justiça não se limita à aplicação da lei em casos individuais, mas exerce uma função pedagógica essencial na prevenção de novos episódios semelhantes, no envio de mensagem clara à sociedade de que negligências de segurança, falhas na estrutura técnica e irresponsabilidades não serão toleradas — e não cumprir essa função configura, para nós, grave afronta à memória das vítimas e ao sentimento de toda a sociedade”, diz o comunicado da Afavinu.

“A vida dos nossos filhos tem um valor irreparável e em memória aos 10 garotos inocentes lutaremos, até o fim, por uma Justiça efetiva e capaz de inibir novos delitos com sentenças que protegem as vítimas e não os algozes.”

À CNN Brasil, o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou que vai recorrrer da decisão judicial — assinada pelo juiz Tiago Fernandes de Barros — junto à 36ª Vara Criminal, responsável pelo processo.

Inicialmente, o caso tinha 11 denunciados. Marcus Vinicius, monitor, foi absolvido. O engenheiro Luiz Felipe e o ex-diretor da base Carlos Noval tiveram denúncias rejeitadas.

Ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello foi retirado da lista de reús em fevereiro deste ano. O Ministério Público alegou que o cartola, que tem 71 anos, não poderia mais ser punido e, portanto, o caso relativo ao ex-dirigente prescreveu.

Quem são os sete absolvidos?

  • Márcio Garotti, ex-diretor financeiro do Flamengo;
  • Marcelo Maia de Sá, ex-diretor adjunto de patrimônio;
  • Danilo Duarte, Fabio Hilário da Silva e Weslley Gimenes, engenheiros responsáveis por aspectos técnicos;
  • Claudia Pereira Rodrigues, responsável por contratos da NHJ;
  • Edson Colman, sócio da empresa que cuidava da manutenção de aparelhos de ar‐condicionado;

Relembre as vítimas da tragédia

As vítimas do incêndio no Ninho do Urubu, no alojamento das divisões de base do Flamengo, em 8 de fevereiro de 2019, foram: Athila Paixão (14 anos), Arthur Vinícius (14), Bernardo Pisetta (14), Christian Esmério (15), Gedson Santos (14), Jorge Eduardo Santos (15), Pablo Henrique (14), Rykelmo de Souza (16), Samuel Thomas Rosa (15) e Vitor Isaías (15).

Outros 16 jovens estavam no local na data do ocorrido e escaparam com vida. Jhonata Ventura, Dyogo Alves e Cauan Emanuel sofreram lesões, mas recuperaram-se e seguem ligados ao futebol.

Jhonata se aposentou em setembro de 2023 por conta das sequelas do acidente e ocupa um cargo no departamento de scout do Rubro-Negro. Dyogo Alves é goleiro e está integrado ao elenco profissional, enquanto Cauan Emanuel defende o Maranguape, clube da Segunda Divisão do Campeonato Cearense.

Veja na íntegra a nota da Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu

A Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu (Afavinu), que congrega mães, pais, irmãos e demais familiares das dez vítimas fatais da tragédia ocorrida em 8 de fevereiro de 2019 no alojamento da base do Flamengo, manifesta seu profundo e irrevogável protesto diante da decisão proferida pela 36ª Vara Criminal da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, que absolveu em primeira instância todos os sete acusados no processo criminal resultante dessa tragédia.

Entendemos que o papel da Justiça não se limita à aplicação da lei em casos individuais, mas exerce uma função pedagógica essencial na prevenção de novos episódios semelhantes, no envio de mensagem clara à sociedade de que negligências de segurança, falhas na estrutura técnica e irresponsabilidades não serão toleradas — e não cumprir essa função configura, para nós, grave afronta à memória das vítimas e ao sentimento de toda a sociedade.

Relembremos que os jovens falecidos — adolescentes em formação, atletas da base — dormiam em contêineres improvisados, sem alvará adequado, com indícios de falha elétrica, grades de janelas que dificultavam a saída, entre outras condições de insegurança.

A absolvição dos acusados, sob o argumento de que não se conseguiu individualizar condutas técnicas ou provar nexo causal penalmente relevante, renova em nós o sentimento de impunidade e fragiliza o mecanismo de proteção à vida e à segurança dos menores em entidades esportivas, formativas ou assistenciais no país.

A AFAVINU seguirá em busca de Justiça e na esperança de que a decisão seja revista e assim reitera seu pedido de que o processo seja acompanhado com rigor pelos órgãos de recurso para que a sociedade receba a mensagem de que tais condutas não ficarão impunes.

Para que a morte destes adolescentes não seja em vão, seguiremos exigindo dos órgãos de fiscalização (municipal e estadual) e do poder público em geral — inclusive esporte, juventude e fiscalização de edificações — a implementação de medidas concretas para tornar obrigatórias auditorias frequentes e manutenção preventiva em alojamentos de atletas, jovens/menores em todos os clubes do País, de modo que tragédias irreparáveis, como a do Ninho do Urubu, não se repitam.

Reafirmamos que a memória dos jovens não será silenciada: os nomes deles, suas vidas interrompidas em circunstâncias evitáveis, exigem que continuemos vigilantes.
A decisão judicial, ao não reconhecer a responsabilização penal, representa uma falha grave do sistema de justiça em seu papel pedagógico — e como tal, reforça em nós o dever de mobilização civil para fortalecer os mecanismos de fiscalização, transparência e responsabilidade em espaços de formação de jovens.

Conclamamos a imprensa, entidades de defesa dos direitos humanos, movimentos esportivos e toda a sociedade a não permitir que essa decisão se transforme em precedente de que a segurança de crianças e adolescentes pode ser tratada com negligência criminosa. A vida dos nossos filhos tem um valor irreparável e em memória aos 10 garotos inocentes lutaremos, até o fim, por uma Justiça efetiva e capaz de inibir novos delitos com sentenças que protegem as vítimas e não os algozes.

Aos torcedores do Flamengo e a todos que amam o futebol e as crianças, a AFAVINU faz um apelo: que a paixão pelos clubes se traduza também em compromisso com a vida. Que o amor pelo esporte, que move milhões de corações, seja também amor pela segurança, pela ética e pela memória daqueles dez meninos que sonhavam em vestir, com orgulho, a camisa rubro-negra ou de outros mantos sagrados. O verdadeiro espírito esportivo exige empatia, responsabilidade e humanidade. Honrar esses valores é proteger as futuras gerações de atletas e garantir que o futebol continue sendo motivo de alegria — nunca de luto.

21 de outubro de 2025
Diretoria da Afavinu
(Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu)



Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/futebol/flamengo/familias-das-vitimas-de-incendio-no-ninho-repudiam-absolvicao-dos-reus/

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