Os seres humanos são muito mais monogâmicos que nossos primos primatas, mas menos que os castores, sugere um novo estudo.
Pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, analisaram a proporção de irmãos completos versus meio-irmãos em diversas espécies animais, bem como em várias populações humanas ao longo da história.
Espécies e sociedades mais monogâmicas tendem a ter um número maior de irmãos que compartilham ambos os pais, enquanto aquelas que são polígamas ou promíscuas produzem mais meio-irmãos.
A equipe de cientistas liderada por Mark Dyble, antropólogo evolutivo da Universidade de Cambridge, utilizou um modelo computacional e dados sobre irmãos produzidos por estudos genéticos de humanos e outros animais para chegar às estimativas de classificação de monogamia.
Os resultados foram publicados nesta quarta-feira (10) na revista científica Proceedings of the Royal Society B.
Os pesquisadores descobriram que os castores apresentaram uma classificação de monogamia de 72%, enquanto os humanos registraram 66%, ligeiramente superior à pontuação dos suricates, que foi de 60%.
As três espécies fazem parte do que eles chamam de “primeira divisão” da monogamia.
No outro extremo da escala, golfinhos e chimpanzés apresentaram uma classificação de monogamia de apenas 4%, enquanto os gorilas da montanha alcançaram 6%.
“Este não é o primeiro estudo a usar proporções de irmãos como medida de monogamia, mas é o primeiro a comparar as taxas em humanos com outras espécies de mamíferos”, disse Dyble à CNN.
De acordo com os pesquisadores, a monogamia tem sido considerada há muito tempo um fator-chave na cooperação social que facilitou a capacidade dos humanos de dominar o planeta.
Dyble calculou as taxas de monogamia humana usando dados genéticos de sítios arqueológicos e dados etnográficos de 94 sociedades humanas diferentes, destacando que as práticas de acasalamento e casamento variam amplamente.
“Embora os antropólogos estejam corretamente interessados em compreender essa diversidade, às vezes é valioso dar um passo atrás e considerar os padrões em nível de espécie e como nos comparamos sendo apenas mais um mamífero”, afirmou Dyble.
Primeira divisão da monogamia
A classificação média de monogamia de 66% para humanos nos coloca em sétimo lugar entre 11 espécies incluídas no estudo que são consideradas socialmente monogâmicas ou que favorecem vínculos de longo prazo.
Dyble acrescentou que “não ficou surpreso” que a proporção média de irmãos completos em humanos estivesse na mesma faixa de outros mamíferos monogâmicos.
“Mas o que me surpreendeu foi ver a separação completa entre humanos e mamíferos não monogâmicos: as sociedades humanas com as menores proporções de irmãos completos (26%) ainda eram mais altas que a espécie de mamífero não monogâmico mais bem classificada (22%)”, disse ele em um e-mail.
As descobertas reforçam a visão científica de que a monogamia é o padrão de acasalamento dominante para os humanos, disse Dyble em um comunicado publicado pela Universidade de Cambridge.
Isabel Smallegange, professora sênior de biologia populacional na Universidade de Newcastle, na Inglaterra, disse à CNN que o “estudo usa uma nova maneira inteligente de comparar a monogamia entre os mamíferos”. Smallegange não participou do novo estudo.
“A descoberta principal é impressionante: os humanos são muito mais monogâmicos do que a maioria de nossos parentes animais mais próximos”, disse ela.
“Os humanos estão na “primeira divisão” ao lado de espécies como castores e suricates, mostrando que o vínculo estável entre pares é mais comum em humanos do que em animais aparentados como chimpanzés ou gorilas, onde múltiplos parceiros de acasalamento são a norma”, acrescentou Smallegange.
“No geral, esta pesquisa nos lembra que, embora os humanos sejam relativamente monogâmicos em comparação com a maioria dos mamíferos, nosso sucesso social provavelmente vem de uma mistura de vínculos entre pares, redes de parentesco e instituições culturais, em vez de qualquer estratégia única de acasalamento”, disse.