Mais de 300 imigrantes sul-coreanos detidos nos EUA voltam para casa


Mais de 300 trabalhadores sul-coreanos detidos por agentes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) no estado da Geórgia, nos EUA, na semana passada, chegaram em casa nesta sexta-feira (12), marcando o fim de uma saga que chocou a nação e ameaçou abalar a amizade bilateral entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul.

Os trabalhadores chegaram ao aeroporto internacional de Seul após partirem da cidade de Atlanta. Em seguida, ocorreram reencontros emocionados entre os trabalhadores e entes queridos, que aguardavam ansiosamente o retorno. Uma mãe, que a CNN identifica apenas pelo sobrenome Park, disse que não conseguiu contatar o filho após a detenção.

“Estou grata por ele ter voltado com saúde. Meu filho tem alergias, então isso era uma preocupação”, relatou ela à CNN nesta sexta-feira (12). “Só de pensar nele algemado e acorrentado pelos tornozelos é profundamente traumatizante.”

Outra mãe, que a CNN não identificou, disse que assistir aos vídeos da operação do ICE a deixou “muito angustiada”. Ela espera que um dia seja seguro para o filho voltar a trabalhar no exterior — “mas por enquanto, não quero mandá-lo de volta aos EUA.”

Provavelmente foi uma semana de confusão e medo para os trabalhadores, que foram acorrentados durante a operação e mantidos por dias em detenção.

Enquanto eles permaneciam em uma instalação do ICE, o principal diplomata da Coreia do Sul foi para Washington negociar as libertações.

Relações diplomáticas abaladas

A Coreia do Sul e os EUA têm sido aliados leais desde o fim da Guerra da Coreia em 1953 e intensificaram a cooperação nos últimos anos, aproximando-se em um esforço conjunto para combater a influência chinesa no Indo-Pacífico.

Seul também abriga a maior base militar dos Estados Unidos no exterior, que acomoda 41 mil pessoas, incluindo tropas e suas famílias.

Por isso, imagens de trabalhadores sendo algemados e acorrentados por agentes do ICE causaram indignação em muitos sul-coreanos e levantaram questões sobre a parceria econômica que havia levado as pessoas detidas aos EUA — uma parceria que o próprio Trump incentivou.

Em agosto, uma cúpula entre Trump e o presidente sul-coreano Lee Jae Myung resultou em promessas de investimentos de bilhões de dólares nos EUA por parte dos principais conglomerados coreanos.

Não está claro se essas resoluções fazem parte de um acordo tarifário anterior que previa um fluxo de investimento de US$ 350 bilhões da Coreia para os EUA.

A montadora Hyundai fez parte desse esforço de investimento, com o presidente se comprometendo a investir US$ 20 bilhões nos Estados Unidos após reunião com Trump em março (e aumentando em mais US$ 5 bilhões após a cúpula Lee-Trump em agosto).

Presidente da Coreia do Sul, Lee Jae Myung, e Donald Trump reunidos no Salão Oval • UNRESTRICTED POOL
Presidente da Coreia do Sul, Lee Jae Myung, e Donald Trump reunidos no Salão Oval • UNRESTRICTED POOL

Dado o envolvimento pessoal de Trump na busca por maiores investimentos coreanos, muitos ficaram atônitos quando o ICE realizou uma operação na fábrica de baterias de propriedade conjunta da Hyundai e LG na Geórgia.

Não está claro qual era a situação dos vistos dos trabalhadores. As autoridades de imigração alegaram que muitos haviam entrado ilegalmente ou permanecido além do prazo dos vistos, mas advogados de alguns dos trabalhadores detidos insistem que os clientes trabalhavam legalmente no local, inclusive com isenções de visto que lhes permitiam aconselhar e consultar.

Também não está claro se esses trabalhadores poderão voltar para continuar trabalhando, como será o futuro dos investimentos coreanos nos EUA ou o que acontecerá com a fábrica da Hyundai.

O ministro das Relações Exteriores da Coreia do Sul, Cho Hyun, instou esta semana o secretário de Estado Marco Rubio a permitir que as pessoas voltem aos EUA e continuem trabalhando posteriormente, segundo comunicado do ministério.

Autoridades americanas deram uma resposta não comprometedora — dizendo que “respeitavam essa posição e prosseguiriam prontamente com o cronograma de repatriação”, afirmou o comunicado.

Lee, o presidente coreano, adotou um tom mais enfático na quinta-feira (11). Ele alertou que a situação estava “muito confusa” para as empresas coreanas nos EUA, e isso levaria as companhias a questionar “se deveriam investir” e poderia ter “impacto considerável sobre o investimento estrangeiro direto nos Estados Unidos.”

Ele acrescentou que negociações estão em andamento sobre a possibilidade de criar novas categorias de vistos ou aumentar as cotas de vistos para trabalhadores sul-coreanos.

Impacto no trabalho da fábrica

Enquanto isso, na Geórgia, a fábrica de baterias está enfrentando um atraso mínimo de dois a três meses para iniciar as operações, declarou o CEO da Hyundai, Jose Munoz, na quinta-feira, segundo a agência de notícias Reuters.

O local está programado para ser o primeiro campus da empresa totalmente dedicado à fabricação de veículos elétricos e baterias nos EUA, um projeto que líderes estaduais prometeram que traria 8.500 empregos e transformaria a economia rural.

Essa promessa agora parece cada vez mais tênue; poucos funcionários permanentes foram contratados até agora, o complexo continua em construção, e a maior parte da força de trabalho é composta por funcionários temporários com vistos ou contratos provisórios — como aqueles detidos pelo ICE.

No relatório da Reuters, Munoz informa que muitos dos trabalhadores detidos eram principalmente empregados por fornecedores da LG, e que a Hyundai obterá baterias de outras fábricas enquanto isso.



Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/mais-de-300-imigrantes-sul-coreanos-detidos-nos-eua-voltam-para-casa/

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