A oposição no Congresso Nacional mira usar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para fortalecer e atrair apoiadores para os atos no domingo (7), quando é comemorada a Independência do Brasil.
Integrantes do grupo se mobilizam para acompanhar o julgamento. Internamente, no entanto, a avaliação da bancada é que a condenação do ex-presidente é dada como certa e a dúvida é apenas a pena a ser definida — que pode chegar a 43 anos.
O STF (Supremo Tribunal Federal) começa, nesta terça-feira (2), a julgar Bolsonaro e mais sete réus na investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
“Na medida do possível, vou assistir [o julgamento], sim, apesar de achar que o jogo já está jogado. Não há nenhuma imparcialidade nesse julgamento”, afirmou o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).
Para o senador, que foi ministro no governo Bolsonaro, o julgamento é “político” e parcial. “A gente está assistindo a uma situação em que não há justiça, há ‘justiçamento’. O problema não é técnico, não é jurídico, é eminentemente político”, disse.
Na Câmara, a oposição deve se reunir na manhã desta terça para o encontro semanal do grupo. Nos últimos dias, líderes da bancada trataram como “segredo” as estratégias sobre a postura do grupo durante o julgamento.
Uma das orientações, no entanto, envolve a ampla convocação, pelas redes sociais, de apoiadores para os atos no 7 de Setembro.
“Esse julgamento vai ser o grande combustível para o 7 de setembro. Quanto mais absurdos saírem no decorrer, isso vai fortalecendo mais o movimento. Não existe como minimizar, não tem como minimizar nenhum ponto. Todos eles são graves e são perigosos”, afirmou à CNN o deputado Zé Trovão (PL-SC).
À CNN, o deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) defendeu que a oposição adote um discurso unificado e evite “falas isoladas”, que tenham potencial de atrapalhar o discurso em defesa de Bolsonaro.
O julgamento no STF é realizado pela Primeira Turma, composta pelos ministros Alexandre de Moraes (relator), Cristiano Zanin (presidente da turma), Cármen Lúcia, Flávio Dino e Luiz Fux. O colegiado terá sessões extraordinárias nos dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro para análise do caso.
Família Bolsonaro
Em relação ao núcleo familiar de Bolsonaro, os filhos do ex-presidente devem estar envolvidos em diferentes atividades durante o início do julgamento.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) estará na Comissão de Segurança Pública, da qual é presidente. O colegiado ouvirá, por videoconferência, Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Alexandre de Moraes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Tagliaferro foi chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação durante o período que Moraes presidiu a Corte Eleitoral. Ele foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) pelo vazamento de mensagens trocadas entre servidores do gabinete de Moraes.
Fora do país desde fevereiro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) estará em Washington, nos Estados Unidos. Ele afirmou que participará de reuniões com integrantes ligados ao governo de Donald Trump.
O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) deve ficar responsável por articular a campanha digital durante o período do julgamento, coordenando ações nas redes sociais.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) decidiu acompanhar o julgamento diretamente da sede do Partido Liberal, de onde costuma despachar. Ela preside o PL Mulher, braço da sigla voltado para o incentivo à participação feminina.
Julgamento no STF
Além de Bolsonaro, compõem o chamado núcleo crucial que começará a ser julgado nesta terça:
- Alexandre Ramagem (PL-RJ), deputado federal e ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência;
- Almir Garnier, almirante e ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Augusto Heleno, general da reserva do Exército e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional
- Mauro Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
- Paulo Sérgio Nogueira, general, ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa;
- Walter Braga Netto, general e ex-ministro da Casa Civil e da Defesa.
O grupo responde por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; tentativa de golpe de Estado; participação em organização criminosa armada; dano qualificado; e deterioração de patrimônio tombado.
A única exceção é Alexandre Ramagem, que teve a acusação de dois crimes suspensa pela Câmara. Ele responde por golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa armada.