A Assembleia Nacional da França aprovou uma resolução nesta quinta-feira (27) para que o governo de Emmanuel Macron rejeite o acordo entre Mercosul e UE (União Europeia).
A proposta, apoiada pelo grupo LFI (França Rebelde), contou com 244 votos a favor e apenas um contra. As informações são da TV BFM, associada francesa da CNN Internacional.
O LFI, em publicações nas redes sociais, comemorou a decisão e clamou por ação do governo, dizendo que a relação entre blocos econômicos representa “ponto de virada” para ambiente, agricultura e democracia.
A tentativa de formar minoria de bloqueio no Conselho da União Europeia e de submeter a questão ao Tribunal de Justiça do bloco ganha força às vésperas de um mês de dezembro decisivo para as negociações.
A Comissão Europeia espera obter o sinal verde dos Estados europeus antes de 20 de dezembro, data da próxima cúpula do Mercosul, impulsionada pelos defensores ferrenhos do acordo comercial entre europeus e seus parceiros sul-americanos (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).
A Alemanha e a Espanha, fortes apoiadoras do acordo, pretendem apoiar os exportadores europeus, especialmente as indústrias, em momento em que a UE enfrenta dificuldades econômicas. Estes países consideram essencial diversificar as parcerias comerciais diante das tarifas impostas pelos EUA sob liderança de Donald Trump.
Os agricultores europeus continuam se opondo veementemente ao acordo, que consideram uma ameaça direta a setores como da carne e do açúcar.
A França, que não conseguiu reunir aliados suficientes para formar uma minoria de bloqueio no Conselho da UE anteriormente, terá dificuldades em obstruir o acordo UE-Mercosul. Por ora, Paris considera o texto “ainda inaceitável” em sua forma atual, apesar das medidas prometidas por Bruxelas.
Franceses esperam que a Comissão Europeia apresente medidas sobre cláusulas para importações agrícolas “o mais breve possível”, disse porta-voz do governo, após reunião de ministros liderada pelo presidente Emmanuel Macron.
O governo francês continua exigindo “medidas equivalentes” para garantir que todos os pesticidas proibidos na UE “sejam realmente proibidos em produtos provenientes dos países do Mercosul”, segundo a ministra da Agricultura, Annie Genevard.
Paris também pede controles mais eficazes para garantir que os produtos importados estejam em conformidade com as normas europeias.
Apesar das falas, o embaixador do Brasil na França, Ricardo Neiva Tavares, disse nesta quinta que espera desfecho para o acordo em dezembro.
“O Brasil tem interesse em não apenas aumentar o volume, mas também em diversificar sua pauta exportadora. Hoje, exportamos à França majoritariamente produtos primários ou semimanufaturados”, disse o embaixador, frisando que as áreas de transição energética, transporte, logística e saneamento oferecem grande potencial.
Uma vez aprovado pelos Estados-Membros, o texto será submetido à votação no Parlamento Europeu, onde o resultado poderá ser apertado. Cerca de 150 deputados já apelaram ao Parlamento para que encaminhe o acordo comercial para o Tribunal de Justiça da UE.