O professor Luis Augusto Rohde, vencedor do Ruane Child Psychiatry Award na categoria psiquiatria da infância e adolescência, afirmou que o aumento no número de diagnósticos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) está relacionado à melhor capacitação dos profissionais de saúde, e não necessariamente a um crescimento na incidência do transtorno na população.
Em entrevista à CNN Brasil, Rohde explicou que profissionais como médicos e psicólogos estão atualmente mais bem preparados para identificar o TDAH em diferentes perfis de pacientes. “Nós estamos reconhecendo o TDAH mais em meninas e mulheres, nós estamos reconhecendo o TDAH em adultos. Antigamente, o TDAH era um diagnóstico de crianças, hoje a gente sabe que ele tem a sua trajetória da infância até a idade adulta”, destacou.
O especialista ressaltou que existe uma diferença significativa na manifestação do transtorno entre meninos e meninas. Enquanto os meninos tendem a apresentar mais comportamentos hiperativos, as meninas frequentemente manifestam sintomas de desatenção e disfunção executiva, o que historicamente dificultou o diagnóstico nesse grupo. “TDAH em meninas e mulheres que nós não diagnosticávamos no passado, porque se tinha a imagem muito forte de que TDAH era associado à hiperatividade e as meninas têm muito mais o componente de desatenção e de disfunção executiva”, explicou Rohde.
A diferença entre TDAH e Transtorno do Espectro Autista
Durante a entrevista, o professor também abordou as diferenças entre o aumento de diagnósticos de TDAH e de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo ele, enquanto no caso do TDAH trata-se principalmente de um melhor reconhecimento do transtorno, no caso do autismo, houve uma significativa ampliação do conceito de espectro.
Rohde mencionou que, há 20 anos, a prevalência do autismo era estimada em 1 a 4 casos para cada 10 mil nascimentos. Atualmente, segundo dados do Centro de Controle das Doenças dos Estados Unidos (CDC), essa proporção é de 1 para 36. “O que aconteceu na DSM, na definição dos critérios de 2013, é que nós ampliamos muito a noção de espectro. Antes a gente tratava autismo só aquelas crianças que não tinham comunicação verbal, que não tinham nenhum tipo de interação, e hoje pequenas nuances da interação social são colocadas como parte do espectro”, explicou.
O pesquisador citou ainda um estudo recente publicado na revista científica Nature que demonstrou diferenças genéticas entre os casos mais severos de autismo e aqueles com manifestações mais leves, sugerindo que pode haver uma necessidade de revisão nos critérios diagnósticos atuais. “Talvez a gente esteja colocando dentro do transtorno do espectro autista muitas coisas que antes a gente colocava com diagnóstico de transtorno de ansiedade social, diagnóstico de características de personalidade”, concluiu.
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/pesquisador-diferencia-tdah-de-autismo-entenda-melhor/
