Um grupos de direitos humanos crítico do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, suspendeu as operações no país nesta quinta-feira (17).
Ao comunicar a decisão, o diretor executivo da Cristosal, Noah Bullock, citou assédio, repressão e a perseguição do governo aos defensores dos direitos humanos.
Ele disse que o grupo continuará a operar a partir da Guatemala e Honduras, e que as ações do governo salvadorenho dificultaram a continuidade do trabalho.
“Somos forçados a escolher entre a prisão ou o exílio”, disse Bullock numa conferência de imprensa na Cidade da Guatemala.
O presidente do país iniciou uma forte repressão contra o crime, mas a ação se expandiu a grupos da sociedade civil e jornalistas.
O governo tem defendido suas ações, apontando reduções significativas na violência de gangues em todo o país, mas opositores dizem que isso veio à custa do encarceramento em massa e da erosão das liberdades civis.
O anúncio de Cristosal surge quase dois meses depois de uma das suas membros, a advogada e ativista dos direitos humanos Ruth Eleonora López, ter sido detida pelas autoridades salvadorenhas sob a acusação de enriquecimento ilícito.
López declarou-se inocente das acusações e pediu um julgamento público.
Os líderes do grupo acreditam que sua detenção não é um caso isolado, mas um ponto de virada para eles como organização.
“Com as ameaças que recebemos, com a criminalização de Ruth e com as possibilidades limitadas de garantias de segurança, somos mais úteis (à causa) por estarmos fora, mas livres, do que arriscando a prisão em El Salvador”, disse o presidente do grupo.
“Atualmente, El Salvador não oferece condições para continuar este trabalho presencialmente”, acrescentou Abraham Ábrego, diretor de contencioso da Cristosal.
Cristosal opera em El Salvador há 25 anos. Durante a administração de Bukele, conduziu várias investigações e condenou o que considera falta de transparência, responsabilização, deterioração da democracia e violações dos direitos humanos.
Enquanto isso, o governo acusa organizações como Cristosal de serem ativistas políticos e negligenciarem os direitos dos salvadorenhos.
Cristosal é o último grupo a ser expulso do país como parte da repressão do governo.
Lei dos Agentes Estrangeiros
A Lei de Agentes Estrangeiros de El Salvador tem sido outro obstáculo para Cristosal.
A regra impõe um imposto de 30% sobre transações, desembolsos, doações ou importações em espécie recebidas por organizações não governamentais cujas atividades em El Salvador são financiadas pelo exterior. Os impostos arrecadados, nos termos da lei, serão utilizados para projetos de interesse geral ou social.
Grupos de direitos humanos descreveram a legislação como uma ameaça existencial.
“A intenção é aplicar a lei discricionariamente para silenciar, até mesmo criminalizar, nós e outras organizações de direitos humanos”, disse Bullock.